A sessão do filme “Era uma Vez Eu, Verônica” das 20h30 da última quinta não tinha nem começado quando Kethelyn Costa, 23, e Rodrigo Martins, 33, se levantaram e saíram da sala aos prantos.
Mas a cena estava mais para comédia romântica do que para drama. Rodrigo tinha acabado de estrear um trailer profissional de cinema, exibido para dezenas de estranhos no Reserva Cultural, na avenida Paulista.
O filme retratado em três minutos? O namoro de três anos dele com a estudante de administração. Cenas do relacionamento dos dois apareceram na telona narradas por voz grossa de narrador, amarradas com animação em 3D e tudo o que a estrutura da agência de propaganda dele deu direito.
Veja o trailer do pedido de casamento:
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Cena do trailer com que Rodrigo pediu Kethelyn em casamento, em sessão de “Era uma Vez Eu, Verônica”, no Reserva Cultural na última quinta, 29
Foi com o rosto na tela grande que ele anunciou que tinha algo a dizer. Acenderam-se as luzes, ele se pôs de joelhos e pediu Kethelyn em casamento. Entre um soluço e outro, ela disse sim. Houve palmas antes dos letreiros iniciais.
Rebobinando o filme: três anos atrás, Rodrigo avistou a hostess da casa noturna Heaven. “Fiquei fascinado.” Era Kethelyn. Que nem o notou de volta. “Ele puxou assunto comigo, nem reparei. Não dava tempo porque eu estava ocupada.” De qualquer forma, ele passou a bater cartão na boate (ou pelo menos na porta dela) toda semana.
Para piorar, descobriu com seu amigo que era sócio da balada: ela era comprometida. “Mas, como na cabeça de todos os meninos, eu achava que ela estava a fim de mim.”
Não desistiu, mas tampouco conseguiu resultado. Até que se trombaram por acaso numa festa da MTV, longe do trabalho dela. E por outro acaso o dia, 1º de outubro de 2009, era o primeiro de solteirice dela. “A gente conversou um pouco, depois ele me mandou umas mensagens no Facebook”, conta ela.
Marcaram de se encontrar, pela primeira vez sem luzes neon ao fundo. Saíram umas vezes para comer e conversar. E só. “A gente não se beijou, mas os encontros valeram”, diz ele, que armou o terceiro encontro como arapuca. “Levei ela no Terraço Itália e decidi: daquele dia não passava.”
O público de mais de 30 pessoas assistiu ao vídeo de três minutos antes do começo da sessão; ao fim do trailer, houve palmas
Não passou. Até porque houve certa conspiração do destino. Estava acontecendo um casamento no bar do restaurante. “Ele disse, vamos entrar de penetra na festa?”, conta ela, que concordou.
Mas chegaram à conclusão de que precisariam de uma desculpa convincente para se juntar ao casório sem convite. Combinaram que se passariam por um casal de noivos atrás de espaço para realizar a própria festa. O primeiro beijo aconteceu no 44º andar, com São Paulo aos pés do casal e uma festa de bodas ao lado. “Tudo já começou com casamento”, sintetiza ela.
O assunto, entretanto, não era suscitado com frequência. “Ele não falava de casamento, parecia o rapaz da propaganda de Rexona, começava a suar quando alguém falava de casamento. Eu achava que era até um assunto frustrante”, conta ela.
Ele se defende dizendo que a ideia sempre esteve em sua cabeça. Tanto que tinha um plano: “Três anos era o período para ter certeza de que a pessoa era especial”. E três anos se passaram desde que, animado com o começo da paixão, ele a convidou a ir para Boipeva, no sul da Bahia.
Foram. Com a irmã dela junto, por exigência da mãe. Pegou um chalé para si e outro para as irmãs. “Fiquei a semana inteira dormindo sozinho.” A partir daí, foi ganhando a confiança da família da namorada. E da própria.
Rodrigo anunciou na tela que tinha algo a dizer: as luzes se acenderam e ele pediu Kethelyn em casamento, na frente de uma sala de cinema de estranhos
Tanto que no último dia 29, quando ele disse a ela que precisava ver um filme por causa do trabalho, ela estranhou. “Ele falou: ‘Sei que você vai ficar chateada, porque é nosso aniversário’, mas eu fui. Você levaria sua namorada no aniversário de três anos para ver um filme?”.
Ela foi porque os dois têm um acordo: quando um diz que o assunto é importante de verdade, o outro precisa respeitar. Então relevou que não comemorariam no Terraço Itália, como fizeram nos últimos dois anos.
Na entrada do cinema, ela diz que as coisas “estavam estranhas”, mas que nem desconfiava do que estava na iminência de acontecer.
“No nervosismo de entrar, ele perdeu o ingresso”, conta ela. Tiveram de mudar de lugar porque acabaram se sentando em assentos vendidos para outros espectadores. “Eu falei pra ele que, se a gente tivesse que levantar de novo, era melhor esperar fora da sala todo o mundo entrar e só sentar depois.”
Até que a luz se apagou e umas imagens conhecidas saíram do projetor. “Só me dei conta quando apareceu a foto dele. Ele começou a rir muito. Eu fiquei besta. Quando apareceu minha foto, comecei a chorar feito uma idiota.”
A resposta, diz ela, “foi de bate-pronto”. Depois de saírem da sala, o pessoal do cinema ofereceu champanhe para os dois brindarem. E se acalmarem: “Primeiro acalmei ele, que estava supernervoso, para depois me acalmar”, diz ela.
O pedido de casamento, com lágrimas dela e nervosismo dele, que tinha perdido os ingressos para a sessão
Saindo da breve sessão de cinema, eles iam ao Fasano para jantar. Mas a tradição falou mais alto. “Mesmo não tendo conseguido reservar mesa no Terraço Itália, decidi aparecer lá”, conta ele.
Deu que conseguiram uma mesa com vista: para a cidade e para o baile de velhinhos que acontecia na noite de quinta. “Quem sabe daqui a uns 40 anos não somos nós dançando ali?”, perguntou ela no dia em que noivaram.
No dia seguinte, ele começou a tratá-la por “minha noiva”. “Muda muito. Até o amor que eu achava que não tinha como aumentar, aumentou”, diz a recém-noiva.
Antes de deixar os outros espectadores verem o filme “Era uma Vez Eu, Verônica”, Rodrigo comemora o sim alcançado
A data do casamento ainda está para ser decidida. Ele sonha em ter um coral de gospel cantando a todos os pulmões quando entrarem no lugar, “que vai ser bem diferente”, promete. Ela quer um casamento na praia depois de terminar um intercâmbio de seis meses em San Francisco, no ano que vem.
Mesmo sem o roteiro estar finalizado, pode-se esperar outra cena de cinema. Felicidade aos noivos.
A recém-noiva mostra a aliança, na saída do Reserva Cultural, na última quinta, 29/11/2012; o casal ainda precisa definir a data da cerimônia